Publicado em 13/05/2013, aqui
Leilane Benetta
Portões fechados e uma placa de imobiliária anunciando a venda. Ao espiar pelos muros baixos, dá para ver as piscinas que fizeram grandes campeões da natação do Paraná. O Clube do Golfinho, que fica na Rua São Salvador, no bairro Pilarzinho, foi durante quase 20 anos um celeiro de campeões de nado do Sul do País. Hoje o espaço está sem uso. Vivas estão apenas as lembranças de moradores e atletas.
O Golfinho foi criado nos anos 70 pela iniciativa de um grupo de pais de atletas e foi o primeiro clube do País exclusivo para a natação. Antes dele, nenhum nadador paranaense tinha conquistado destaque no esporte. O auge foi em 1986, quando o clube assumiu a segunda posição no ranking da natação nacional.
A saída dos pais fundadores levou ao declínio do Golfinho. O local foi vendido para a Sociedade Juventus, que o leiloou em 2003 para pagar as dívidas com o INSS. Hoje ele está à venda a um custo de R$ 4,6 milhões. Mas o comprador precisaria de autorização da prefeitura para construir qualquer coisa, já que a área é considerada de interesse para desapropriação. Desde 2010, um grupo de ex-atletas e moradores pede isso ao poder público, para transformar o espaço em um equipamento público de atendimento à população. A prefeitura informou apenas que um processo sobre o clube está em análise na Secretaria de Planejamento, mas não quis dar mais detalhes.
O pai de Ênio Aragon foi um dos fundadores do Clube do Golfinho, quando ele tinha 18 anos. “Ganhei inúmeras medalhas, fui um dos primeiros grandes nadadores do Paraná”, conta Ênio, hoje diretor da Positivo Informática. Ele fez várias viagens para disputar competições, como para o Uruguai e para a Bulgária. “O clube foi muito importante na minha vida. Foram 10 anos de nado que me transformaram em nível de caráter, conhecimento, experiências com viagens e amizades que tenho até hoje”, destaca.
Uma família
Único nadador brasileiro a participar de cinco Olimpíadas, Rogério Romero, também nadou no Golfinho, de 1986 a 1990. Pelo clube, conquistou seu primeiro ouro em brasileiro, tanto juvenil quanto absoluto, e recebeu as primeiras convocações para seleções nacionais e a primeira olimpíada (em Seul, no ano de 1988). Ele ressalta a principal conquista do clube. “A maior vitória daquele ambiente é notar que todos estão com sua família constituída e uma carreira profissional. Gosto de pensar que o Golfinho contribuiu para a formação destes cidadãos”. Sobre o futuro do espaço, Romero diz: “não sei se daria para resgatar o que foi o Clube do Golfinho para uma nova geração, mas é realmente uma pena ver uma estrutura daquelas, num país como o nosso em pleno ciclo olímpico, ser abandonada após tantas memórias boas”.
O médico Flávio Gomel praticou natação no Golfinho durante todo o tempo que o espaço funcionou. “Mais do que um clube, foi formada uma família. Fomos criados em um ambiente saudável e, paralelo a isso, tivemos maravilhosos resultados naquilo que o clube se propunha”, avalia. Ele acredita que “para recriar o espaço, seria preciso ter o sonho, um estímulo como o que as pessoas tiveram na época”.
Vizinhos lamentam abandono
Sônia Gava, de 60 anos, mora desde que nasceu em uma casa na frente do Clube do Golfinho. Ela conta que a mãe e a irmã nadavam lá e relembra como ficava a rua na época. “Ficava muito movimentada quando tinha competições, com muitos carros”. Há cerca de um ano, segundo ela, os moradores da rua tiveram problemas com as pessoas que estavam cuidando do clube. “Eles usavam drogas, bebiam e jogavam muito lixo ali”, reclama. “Gostaria que se tornasse um espaço de lazer, com segurança, para que não seja usado por desocupados”, comenta Sônia.
O filho de Lucia Borzek de Freitas, também moradora da rua do clube, aprendeu a nadar no Golfinho e ela lamenta a situação atual. “Foi uma pena ser fechado, agora está esse abandono”, afirma. “Teriam que fazer alguma coisa, porque é um pecado ficar parado desse jeito”. Ela diz que o filho quer voltar a praticar o esporte, mas ainda não encontrou um lugar que fique perto de casa.
Rosa Ribeiro Beraldo, de 65 anos, recorda com carinho da época em que o clube funcionava. Lá praticava hidroginástica e a filha, Daniele, hoje com 39 anos, natação. Orgulhosa, ela mostra as medalhas e fotos de Daniele. “Ela viajou para vários lugares para competir – Brasília, Chile, México, São Paulo; foi com o Gustavo Borges, com o Xuxa”, relata. “Queria muito que voltasse a funcionar o clube”, desabafa Rosa.