Novo dirigente do Minas, Rogério Romero fala do desafio e da gestão pública

Publicado em 05/07/15, aqui

Com um currículo extenso no esporte, Rogério Romero aceitou em maio passado um novo desafio profissional. Com o cargo de gerente de esportes, ele vai comandar os nove esportes do Minas Tênis Clube.

Como nadador, Rogério se tornou o único brasileiro a participar de cinco Olimpíadas, sendo finalista em Seul (1988), Barcelona (1992), Atlanta (1996) e Sydney (2000), e semifinalista em Atenas (2004).

Agora como dirigente. ele espera contribuir com o clube no qual passou quase a metade dos 27 anos de carreira como atleta.

Além do passado como nadador, Rogério, que deixou as piscinas, em 2004, trabalhou durante dez anos na política, como subsecretário de Esportes, secretário-adjunto da Secretaria de Esportes e da Juventude e secretário adjunto da Secretaria de Turismo e Esportes de Minas Gerais. Expertise que ele promete colocar a serviço do Minas.

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Você ficou dez anos na política. Por que resolveu sair da vida pública?

Acho que a vida é dividida em ciclos, e este foi mais um ciclo que concluí. Foi um momento interessante e de grande aprendizado que acabou me dando ainda mais bagagem para minha sequência profissional.

Como foi o convite e por que você aceitou se tornar o gerente de esportes do Minas?

Na verdade, não foi um convite. A oportunidade surgiu com a reestruturação da administração do clube, após a entrada do Luiz Gustavo Lage (presidente). Foi aberto um processo seletivo, onde eu e mais algumas pessoas participamos, e acabei sendo o escolhido. O Minas é uma referência no esporte e acredito que, para minha carreira fora das piscinas, será um grande desafio.

Como gestor, o que você pode acrescentar ao Minas?

Acredito que o Minas já tem todas as ferramentas para se manter no auge. E é isso que complica ainda mais o meu trabalho. Vejo muitas semelhanças entre o Minas e o governo. Ambos são muito burocráticos, e é sempre complicado aprovar as ações. Aqui, a diretoria nos dá todas as diretrizes do que devemos fazer. Minha ideia é contribuir onde for preciso, e o grande desafio é manter o clube como uma referência no esporte nacional.

Quais projetos e/ou ideias que você tem para tornar o Minas um ‘case de sucesso’ ainda maior no esporte brasileiro?

A minha intenção e função é facilitar para que todos os esportes tenham as melhores condições possíveis, e o limitador para isso são os recursos, tanto o financeiro que rege nossos orçamentos, quanto o de material humano.

Como a experiência olímpica que você tem pode ajudar nesse cargo?

Acredito que não só a minha experiência olímpica, mas como atleta, me ajuda a entender um pouco melhor as demandas dos atletas de alto nível. Por exemplo, sei que os detalhes fora das quadras, tatames ou piscinas, contam tanto quanto dentro. Por isso, procuro dar aos atletas um bom conforto, uma alimentação adequada, um bom aparato de ciência do esporte, com psicologia, preparação física, entre outras coisas.

O Minas não chega a uma decisão de Superliga desde 2009 (no masculino) e desde 2004 (no feminino). Como o clube pode voltar às grandes glórias na modalidade?

Primeiramente, temos que voltar a dar boa visibilidade para os possíveis parceiros, porque no vôlei e no basquete também, o resultado depende diretamente do investimento, infelizmente. Mesmo assim, o Minas montou duas equipes competitivas na última temporada e obtivemos um ótimo resultado. Se conseguirmos um patrocinador forte para o vôlei, tenho certeza de que voltaremos a brigar pelos principais títulos.

O Minas vem deixando de ser a maior referência no vôlei mineiro, com resultados inferiores aos do Sada/Cruzeiro e aos do Praia Clube. Como resgatar essa tradição?

Vejo isso com bons olhos, pois acaba sendo mais um desafio que temos que encarar de peito aberto. Além disso, melhora o campeonato estadual e fortalecer a modalidade. O Minas não vai deixar de competir por não sempre ganhar, mas nosso objetivo sempre é montar equipes a altura da tradição do clube, que entrem em quadra com o objetivo de vencer.

Nesse momento de crise econômica no país, como fazer o empresariado mineiro voltar a investir?

Vou citar uma frase que eu gosto de usar: “dentro das crises é que surgem as oportunidades”. Nosso papel é mostrar que o esporte está passando por um momento interessante, já que estamos adentrando o ano olímpico. Temos de mostrar que o esporte atinge as pessoas de uma maneira especial, diferentemente de uma propaganda.

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Em 2001, ainda como nadador: 13 dos 27 anos da carreira como atleta de Romero foram dedicados ao Minas (Foto: Cristiano Machado / Arquivo Hoje em Dia)
Como é trabalhar na iniciativa privada em meio a um mercado tão ruim para obter patrocínios?

Felizmente, o Minas, além de um clube, é uma empresa muito bem sucedida e muito sólida. Prestamos serviço aos nossos associados com quem temos uma credibilidade muito grande, como comprovamos através de pesquisas de satisfação que fazemos. Além disso, estamos sempre inovando, investindo em diversas obras, na capacitação de pessoal, e acredito que tudo isso demonstra que não aceitamos ficar parados. No esporte não é diferente, estamos sempre em busca de bons parceiros para viabilizar boas equipes em todas as modalidades.

A natação e o judô são os principais esportes do clube em termos de resultados profissionais no momento. Por quê?

Isso acontece porque o trabalho vem sendo muito bem feito. O judô está sendo uma grata surpresa há alguns anos, tem uma equipe consistente com grandes resultados, os títulos masculino e feminino do Troféu Brasil, mesmo poupando os judocas que disputarão o Pan-americano de Toronto. Além disso, com a convocação para o Mundial do Cazaquistão, em agosto, somos o clube que mais vai ceder atletas para a seleção. A natação acabou de ser vice-campeã do Troféu Maria Lenk, mas fomos campeões brasileiros no infantil, que mostra que o trabalho de base também está sendo bem feito, que vai alimentando as equipes de ponta.

Com base na sua experiência, o que funciona e o que não funciona na gestão pública? Quais as dificuldades?

No poder público também há muitas restrições orçamentárias e este é o maior limitador. Todo mundo quer que tudo seja feito pelo poder público, e simplesmente isso não é possível. É preciso estabelecer algumas prioridades antes de sair investindo. Atualmente, o ministro George Hilton e sua equipe estão tentando estabelecer o sistema nacional do esporte, que eu acho que é uma iniciativa muito interessante, até para saber porque há muito esforço duplicado nos diversos governos. Havendo esse alinhamento, talvez o recurso comece a ser melhor distribuído, o que favorecerá a todos em uma última instância.

Por que não temos um investimento consistente no esporte de base, desde as escolas?

Talvez porque não dê a visibilidade política que muitas pessoas querem. Em todos os fóruns sobre política esportiva é falado que o esporte educacional tem que ser prioridade. Na verdade, ele já é a prioridade constitucional, é só olhar para o artigo 217 da constituição. Mas, em exceções, como é agora do ciclo olímpico de uma Olimpíada que vai ser realizada no Brasil, tem um esforço maior no esporte de alto rendimento, mas, pra mim é muito claro que o grosso do investimento tem que ser no esporte educacional.

Como avalia o objetivo do COB de o Brasil terminar a Olimpíada entre as dez primeiras colocadas do quadro de medalhas?

Acho que a estratégia deles está sendo bem sucedida. O plano era manter forte as modalidades que já vinham dando medalhas; e aquelas que chegaram perto, tiveram o investimento aumentado para ela subir de patamar. Hoje, o Brasil tem chance de conquistar medalhas no pentatlo moderno, tiro com arco, canoagem. Além disso, o handebol feminino é campeão mundial, o polo aquático foi quarto colocado no Mundial. Ou seja, houve uma evolução, e vamos conquistar medalhas que serão surpreendentes para muita gente. Por isso, acredito que há chance real de o Brasil terminar entre os dez primeiros.

O que você espera da participação do Brasil no Pan de Toronto? Acha que a competição pode ser vista como um termômetro para a Rio 2016?

Acho que o nível das duas competições é muito diferente para comparar as metas e resultados. Alguns países, inclusive, nem levam suas equipes principais. Além disso, só os países do continente americano disputam o Pan, e em alguns esportes as principais equipes são as europeias ou as asiáticas. Por isso, acontece muito de o Brasil ter um grande desempenho no Pan e não repetir isso na Olimpíada subsequente. Ao mesmo tempo, é sempre bom ter a oportunidade de disputar uma competição de alto nível apenas um ano antes dos Jogos Olímpicos. Para os mais jovens serve também a experiência de participar de um evento para quebrar o gelo.

 

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