Cena 1: Anthony Tinga vem de um pequeno país e vai para a final dos 100m borboleta contra um branquelo que é do país mais poderoso do mundo. Já na saída, sem nenhuma surpresa, o grande favorito consegue uma vantagem. Após a virada dos 50m, ele surge ainda mais imponente, estilo perfeito, pernadas vigorosas. Chegando aos 25m finais, ele tem quase um corpo (o seu, de quase 2m) de vantagem sobre os demais competidores. Últimos 12-15m e ele começa a sentir, seu estilo cai, mas ainda mantém uma vantagem confortável a não ser que… uma chegada deslizante e um final sensacional dão a vitória a Tinga pela menor margem possível na natação: UM centésimo. A plateia vai ao delírio frente a um desacreditado favorito que vê sua meta de igualar o melhor dos melhores fugir logo na sua primeira prova. Isso tudo, num país de amarelos.
Cena 2: Edvaldo Tinga foi um nadador de sucesso improvável. Pobre, vindo de um país do terceiro mundo (quase em desenvolvimento), ele nadou contra tudo e todos – e chegou a uma histórica final olímpica com seus 3 companheiros. Dois deles já tinham sentido o gosto da medalha olímpica e buscavam, logo no primeiro dia de competição, mais uma. Ao nosso Tinga foi dada uma responsabilidade enorme: a de fechar o revezamento 4x100m livre. Mas ele não se intimidou. Apesar de cair em quinto, o improvável acabou virando inacreditável. Com sua famosa volta fortíssima, ela superou representantes de países que já tinham tido problemas em período passado para reconhecer cidadãos de sua cor. Embora a atenção tenha ficado para a sensacional disputa pelo ouro com recorde mundial, um pequeno grupo presente do seu país se abraçava e pulava tanto quanto os vencedores (e ainda se emociona com a lembrança).
PS: qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.
Rodrigo Mendes
Caro amigo de muitas competições, Rogério Romero!!
Excelente sua analogia de “Tinga’s” no mundo dos esportes aquáticos.
Dois atletas que simplesmente quebraram todos os protocolos e paradigmas, mostrando ao mundo o tamanho da igualdade das raças.
Belíssimo relato de dois atletas desacreditados vindos de países desacreditados, que ACREDITARAM E VENCERAM.
Venceram os oponentes e, principalmente, o racismo.
Um forte abraço com saudades,
Rodrigo Mendes (ou Rodriguinho)