Desde a minha primeira experiência olímpica, tive a frustração de ver que o esporte, ou o espírito olímpico, não é respeitado. Em Seul 1988 tivemos o auge dos Jogos na disputa dos 100m rasos entre o canadense/jamaicano (desde aquela época a pequena ilha já brilhava) Ben Johnson e o americano Carl Lewis. Foi quase uma humilhação…
Dois dias depois (porque o resultado demora tanto hoje em dia????), sai o resultado positivo do canadense. Ai que humilhação…
Mas as suspeitas de doping não ficaram apenas nas pistas de atletismo. Eram as primeiras olimpíadas depois dos boicotes de Moscou e Los Angeles. Quem é melhor? EUA ou URSS? Leste ou Oeste? E esta rivalidade também foi para as piscinas coreanas.
A natação feminina (?) alemã brilhou e apenas 3 nadadoras não oriundas da Alemanha Oriental ganharam o ouro olímpico. Anos mais tarde, já no Mundial de 1994, em Roma, o domínio foi ainda maior, agora da China. As chinesas perderam apenas duas provas para a australiana Samantha Riley (que antes do Mundial do Rio 95 acabou também se envolvendo com suspeita de doping).
Mas este era um problema só de fora, certo? Errado. O Brasil tem o recorde de nadadores pegos em doping nos últimos anos. Mais uma mera coincidência? E os casos deste ano são ainda mais emblemáticos, com um campeão olímpico e uma experiente atleta. Qual o significado disso? Ninguém está imune. Hoje as substâncias surgem com uma velocidade impressionante. O cuidado deve ser redobrado – até neurótico.
Lembro em Atlanta 1996 quando Gustavo Borges simplesmente não tomava água de garrafa aberta. Naquele momento achei exagero, mas hoje entendo que a precaução era melhor do que se ver privado de duas medalhas olímpicas por um pequeno descuido. Sabotagem? Porque não?
A neura passa agora para acusaçao indiscriminada de tudo e todos. Não penso assim, mas concordo que a geração twitter quer tudo rápido demais e às vezes lança mão de artifícios para chegar a um resultado mais rapidamente. Ou tem muita gente disposta a treinar (mesmo) 6 horas por dia aí para representar o Brasil no Rio, em 2016?
Como o assunto é extenso, espero colaborações para poder comentar um pouco mais.
Este texto foi originalmente publicado no site do iG (colunistas.ig.com.br/rogerioromero