Publicado em 12/07/2014, aqui
PUBLICADO EM 11/07/14 – 10h32
O desfecho melancólico da seleção canarinho na Copa do Mundo e o sentimento de terra devastada que tomou conta dos milhares de torcedores brasileiros que viram uma derrota acachapante diante da seleção alemã, em pleno Mineirão, por 7 a 1, ficou apenas dentro campo.
O sucesso do Mundial em Belo Horizonte foi notório e já deixa saudades. Mas não por muito tempo. Terminada a Copa, os olhares se voltam para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, que contará com BH como uma das subsedes do torneio de futebol olímpico (masculino e feminino), ao lado de São Paulo, Salvador e Brasília.
Os Jogos Olímpicos de 2016 receberão cerca de 200 delegações internacionais de atletas, 11 mil atletas olímpicos, 4,5 mil paralímpicos, 40 mil jornalistas e 70 mil voluntários e, parte dessa fatia, pode ser destinada a Belo Horizonte e outras oito cidades do interior mineiro que foram habilitadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a receber as comitivas esportivas. Será mais uma grande possibilidade de intercâmbio cultural, fomento da economia e turismo local e, principalmente, a troca de experiências entre atletas locais e internacionais e entre equipes multidisciplinares.
Por oferecer excelentes opções de locais de treinamentos para atletas de alto rendimento, Belo Horizonte foi a primeira cidade do Brasil a assinar um memorando de entendimento com um comitê olímpico estrangeiro para ser local de preparação e aclimatização de atletas para a disputa dos Jogos. Além disso, há possibilidades de o Mineirão ser palco de partidas de futebol masculino e feminino durante a Rio 2016. “Termos Belo Horizonte como uma das cidades que receberão jogos de futebol para as Olimpíadas contribui para movimentar a economia local e incentiva o turismo, assim como vimos na Copa”, afirma Rodrigo Zuquim Macedo, superintendente de Esporte e Lazer do Sesc Venda Nova, cujo Campo Oficial de Treinamento (COT) já recebeu as seleções do Brasil, Chile e Bélgica e vive a expectativa de receber novas delegações daqui a dois anos. “Agora, a expectativa é continuar trabalhando para que esse nível de visibilidade positiva que adquirimos na Copa continue elevado e produza resultados em termos de atração de turistas e novos negócios para estimular ainda mais o desenvolvimento da cidade e do Estado”, destacou Camillo Fraga, secretário municipal extraordinário da Copa do Mundo.
Intercâmbios e legados
Ainda durante a Copa, antes de assistir ao jogo Inglaterra x Costa Rica, no Mineirão, o príncipe Harry, quarto na linha de sucessão ao trono britânico, junto aos representantes da Associação Olímpica Britânica (British Olympic Association) e da Associação Paralímpica Britânica (British Paralympic Association), esteve no Minas Tênis Clube e no Centro de Treinamento Esportivo da UFMG para ratificar o acordo de cooperação.
A parceria com as delegações britânicas olímpicas e paralímpicas abre precedentes para possíveis legados sociais, econômicos e educacionais. O acordo inclui o compromisso de criar programas de intercâmbio e de compartilhar expertise e conhecimento nas áreas de ciências do esporte e medicina, educação e treinamento, marketing, mídia e áreas comerciais para o benefício mútuo e desenvolvimento do esporte olímpico brasileiro e britânico. “Criamos uma relação de confiança com o comitê britânico e o fato de serem a terceira maior potência olímpica nos aproximou muito dessas pessoas para trocarmos experiência e nos espelharmos nos resultados alcançados por eles. O grande legado é a troca de experiência, o intercâmbio de atletas e o aprendizado”, afirma o presidente do Minas Tênis Clube, Luiz Gustavo Lage.
De acordo com ele, o clube – que conta com oito modalidades com profissionais de alto rendimento esportivo, 1.200 jovens na base e tem tradição na formação de atletas – já possui instalações físicas e aparelhagem que atenderão os mais de 80 atletas olímpicos britânicos e paralímpicos. “Alguma coisa eles irão trazer e, caso haja necessidade de melhoramentos, eles seriam feitos pelos britânicos e ficariam para o nosso clube. Porém, o mais importante é o impulso que isso nos traz no sentido do trabalho sistêmico e integrado também com outras esferas para o esporte crescer”, conta.
Inspiração para a garotada
O prata da casa Otávio, central da equipe de vôlei do Minas, que já disputou jogos pela seleção brasileira, destaca a vinda dos britânicos. “Esse intercâmbio será importante para todos dentro do clube. Principalmente para a garotada da base, que terá oportunidade de ver de perto atletas olímpicos e com uma experiência internacional, motivando cada vez mais esses novos talentos a acreditar nos sonhos e treinar mais para alcançá-los”.
Assim como o jovem atleta, o secretário adjunto de Esporte de Minas Gerais, Rogério Romero, único nadador brasileiro a disputar cinco Olimpíadas (de 1988 a 2004), vê com bons olhos a vinda de comitivas do esporte para cá. “Para os atletas mirins que estão começando, é uma oportunidade única presenciar uma Olimpíada no país e ver grandes atletas treinando no Estado. Eles perceberão que a distância não é tão grande assim com os atletas de alto rendimento e poderão ver de perto esses profissionais. Outro ponto chave será o intercâmbio de atletas e das equipes especializadas e multidisciplinares”.
Além do Minas, o Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) receberá parte dos atletas olímpicos e paralímpicos britânicos. O local tem uma pista de atletismo com certificação internacional e possui aparato para receber atletas de alto rendimento. O seu parque aquático deve estar pronto no fim de 2014 e terá uma piscina de 50m, além de um projeto de criação de um pavilhão esportivo. “Com o restante das obras concluídas, teremos um dos melhores e mais bem equipados CTs do país. Por isso, a perspectiva é que fechemos pelo menos com mais uma delegação tanto olímpica quanto paralímpica. Isso será fundamental para que nossos atletas cresçam nesse intercâmbio com os profissionais do esporte de outros países”, declara o diretor do CTE da UFMG, Bruno Pena Couto. Outro espaço que também será utilizado por atletas britânicos de tiro esportivo no período preparatório dos jogos olímpicos será o Clube Mineiro de Caçadores (CMC) de Santa Luzia, Região Metropolitana de BH.
INTERIOR TAMBÉM ATRAI COMITÊS
Com centros de excelência no esporte de alto rendimento, não é só a capital mineira que se destaca para receber comitivas de atletas estrangeiros. Minas Gerais aparece entre os cinco Estados mais bem preparados para serem anfitriões de delegações olímpicas de outros países. E comitês e associações olímpicas de outros países, como França, Japão, Austrália, Canadá, Itália e até a China, teriam sinalizado interesse em ficar em cidades do Estado, segundo o secretário adjunto de Esporte de Minas Gerias, Rogério Romero.
Das 73 cidades brasileiras selecionadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no processo para cadastramento e seleção de locais de treinamento pré-jogos nas Olimpíadas, as cidades mineiras de Uberlândia, Juiz de Fora, São Sebastião do Paraíso, Varginha, Barbacena, Governador Valadares, Poços de Caldas e Viçosa, além da capital BH, foram credenciadas para receber delegações estrangeiras.
De olho nessa possibilidade, Juiz de Fora e Uberlândia pularam na frente, visando o intercâmbio cultural de seus atletas com profissionais do esporte de outros países e, ainda, o impulso econômico e a expansão do comércio, hotéis, bares e restaurantes locais.
E a localização de Juiz de Fora pode ser um diferencial para a escolha da cidade por uma delegação estrangeira. “Geograficamente, estamos muito próximos do Rio e isso facilita a vinda de atletas estrangeiros para cá no período pré-olimpíada. Outro fator que pode nos ajudar são as obras da BR–040, que têm previsão de estarem prontas antes de 2016. Com a nova pavimentação, estaremos a 1 hora e 40 minutos de carro dos locais onde haverá as competições”, afirma o secretário de Esporte e Lazer de Juiz de Fora, Francisco Canalli.
Ainda segundo Canalli, a cidade está se preparando para 2016 e tem ótimas expectativas. “Acredito que teremos um aquecimento das conversas com alguns comitês esportivos após o término da Copa. Temos ótimos espaços, como as instalações esportivas do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, o Ginásio do Colégio Metodista, o Poliesportivo Antônio Marcos Nazaré Campos, que está em construção, e o Complexo Esportivo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Outro parceiro é o clube Tupinambás, que tem quadras de vôlei, basquete e handebol. Nosso objetivo também é fomentar intercâmbios da Associação Desportiva de Juiz de Fora, para levarmos nossos atletas para fora para aprenderem e melhorarem os seus desempenhos”, ressalta.
China e Canadá
De acordo com o diretor da Faculdade de Educação Física (Faefid) da UFJF, Maurício Bara, a universidade acredita que pelo menos uma delegação seja direcionada para a instituição, já que foi procurada pela delegação de atletismo da China e associações olímpicas e paralímpicas do Canadá. “Estamos muito empenhados para trazer delegações estrangeiras para a Rio 2016. Em 2010, foi feita uma reforma completa de nossa pista de atletismo, colocamos um piso sintético e foram construídas outras quadras. Há também projetos em andamento de construção de andares específicos para lutas e ginástica. O nosso foco é o atletismo e temos conversas adiantadas com a delegação olímpica chinesa de atletismo. Outra delegação que nos procurou foi a canadense, tanto a olímpica como a paralímpica, que nos informou que as comitivas teriam no total mais de 120 atletas de alto nível”, diz.
Irlandeses fecham com Uberlândia
A cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, já firmou um memorando de entendimento com as delegações olímpicas e paralímpicas da Irlanda e se prepara para receber cem atletas olímpicos e 80 paralímpicos, além das comissões técnicas e equipes multidisciplinares. A cidade conta com estruturas esportivas de excelência, com destaques para a estrutura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e para o complexo do Parque do Sabiá e Arena Tancredo Neves. Além disso, há um parque aquático previsto para ser entregue no fim de 2014, e a cidade tem ainda como referências locais como o Sesi Gravatás e o Praia Clube, um dos maiores clubes desportivos da América Latina. “Poderemos oferecer estrutura adequada para a comitiva irlandesa no atletismo, na canoagem, no ciclismo, na natação, no pentatlo moderno, no remo, no rugby e no triatlo para os esportes olimpicos. Para os paralímpicos, há estrutura adequada para o atletismo, a canoagem, o ciclismo, o futebol, a natação, o remo, o tênis de mesa, o tiro esportivo e o triatlo”, esclarece Pedro Castro Mendes, diretor de turismo de Uberlândia.
Outro aspecto dos preparativos para receber as delegações olímpicas e paralímpicas da Irlanda são os possíveis investimentos em aparelhagem esportiva por parte dos irlandeses e, ainda, a troca de experiências entre atletas locais. “De acordo com o que foi firmado, haverá um aporte financeiro para melhoramentos e investimentos em nossas aparelhagens que ficarão como legado para a cidade. Estamos preconizando a permuta de serviços também, ou seja, intercâmbio de nossos atletas – receberemos e enviaremos atletas mirins. Temos previsão para cursos e um legado cultural. Há, inclusive, negociações sobre treinamentos compartilhados com outras delegações e isso pode atrair mais países que podem fazer aqui amistosos preparatórios para os Jogos Olímpicos”, diz Mendes.
Segundo Rogério Romero, a captação de delegações estrangeiras para treinarem nos centros esportivos da capital e outras cidades do Estado pode alavancar investimentos em aparelhagem desportiva. “Tudo vai depender das demandas e o Estado poderá ter projetos de investimentos. Mas acredito que os equipamentos e aparelhagens para os atletas de altíssimo nível precisariam de poucas mudanças, salvo em algumas modalidades, com por exemplo, a de saltos ornamentais, que necessita de um grande tanque e que poderia ser realizado na Academia de Polícia do Estado”, conta
Outras cidades candidatas a receber delegações
Barbacena O Centro de Treinamento da Escola Preparatória de Cadetes (Epcar) poderá receber delegações estrangeiras nas modalidades de esgrima e judô.
Santa Luzia Clube Mineiro dos Caçadores – atletas da delegação britânica do tiro esportivo usarão as dependências do clube para treinamento.
Poços de Caldas A Sociedade Hípica Chácara Flora poderá receber atletas internacionais do hipismo. Já o Clube de Remo de Poços de Caldas tem prevista a construção de uma raia olímpica de 2000 m até o fim de 2015 e já tiveram sondagens de atletas estrangeiros do remo.
São Sebastião do Paraíso A Arena Olímpica João Mambrini, que já sediou a Copa América de Basquete sub-18 masculino, possui estrutura completa para receber mais de cem atletas. Possui quadras para esportes coletivos e academias estruturadas. Algumas delegações estrangeiras já procuraram o executivo municipal para visitação da Arena.
Varginha O Clube Campestre de Varginha poderá receber atletas estrangeiros do tênis. O clube conta com 11 quadras de tênis sendo cinco cobertas.
Governador Valadares A Estação Conhecimento Governador Valadares é composta por piscinas, quadras, campos de futebol, pista de atletismo com seis raias, academias e vestiários completos. O centro de treinamento poderá receber uma delegação estrangeira inteira.
Viçosa O Centro de Treinamento Esportivo da Universidade Federal de Viçosa possui alojamentos adequados, academias e ampla área para exercícios ao ar livre. Além disso, o CTE de Viçosa conta com a melhor e mais completa estrutura para a modalidade de levantamento de peso no país. Toda a aparelhagem foi importada recentemente da Suécia e, agora, dirigentes do CTE esperam fechar com atletas estrangeiros do levantamento de peso.